"Cine-Divã: Todos nós Desconhecidos" com Arthur Figer, Psicanalista no Rio de Janeiro

Em meio a mais uma tarde/noite monótona e solitária, no andar alto de um arranha-céu londrino quase desabitado, o silêncio ensurdecedor no apartamento de Adam (Andrew Scott) é subitamente quebrado pelo som de um estranho alarme, que apenas ele parece conseguir escutar. Que tipo de alarme seria esse? Que perigo estaria sinalizando? Minha interpretação é que trata-se de um alarme ao mesmo tempo falso e verdadeiro. Falso, na medida em que não havia ameaça alguma à estrutura física do prédio, mas sim uma ameaça à estrutura psíquica de Adam, já fragilizada por algumas rachaduras. Logo em seguida ao colapso mental de Adam, sinalizado pelo alarme que só ele conseguia ouvir, entra em cena seu vizinho Harry (Paul Mescal), a representação alucinada do seu eu/ego dividido (esquizo=divisão, phrenia=mente). A estória de amor que se desenrola entre Adam e Harry, os diálogos entre Adam e seus pais já falecidos, dentre outros fenômenos alucinatórios, podem ser interpretados como tentativas de cura, de “cicatrização” da fenda psíquica que se abriu naquela noite solitária, silenciosa e insuportavelmente angustiante. Assim como acontece com um corte na pele ou um osso fraturado, nosso aparelho psíquico também busca cicatrizar suas feridas e calcificar suas fraturas, a fim de reequilibrar-se. Eis que surge a psicanálise como facilitadora deste processo. "Todos Nós Desconhecidos" é um mergulho instigante e teoricamente preciso nas profundezas da psique humana. Além de um convite para nos conhecermos melhor. Conhece-te a ti mesmo!
🎞Todos Nós Desconhecidos ("All of Us Strangers")
🎞2023 ‧ Fantasia/Romance ‧ 1h45m
🎞Direção: Andrew Haigh
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